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Homenageada do Mérito conquista o Prêmio Mundial da Alimentação

Campo Grande, 16 maio 2025 às 12:47

A engenheira agrônoma Mariangela Hungria, doutora em Ciência do Solo e pesquisadora da Embrapa, foi reconhecida internacionalmente com o Prêmio Mundial da Alimentação (World Food Prize), considerado o “Nobel da Agricultura”. A cientista brasileira já havia sido homenageada em 2018 com as Honrarias do Mérito do Sistema Confea/Crea. 

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Mariangela Hungria em homenagem do Sistema Confea/Crea 


Concedido anualmente, o prêmio reconhece indivíduos cujas contribuições tenham promovido avanços significativos na qualidade, quantidade ou disponibilidade de alimentos em escala global. No caso de Mariangela, o reconhecimento se deve ao seu trabalho pioneiro com insumos biológicos que transformaram a agricultura brasileira.

Ao anunciar a premiação, foi destacado que as descobertas da pesquisadora contribuíram de forma decisiva para posicionar o Brasil como uma potência agrícola. Com mais de quatro décadas dedicadas à pesquisa, Mariangela é referência no desenvolvimento de tecnologias inovadoras em microbiologia do solo. Em nota divulgada à imprensa, ela compartilhou um pouco da sua trajetória na pesquisa. “Substituir o uso de produtos químicos por produtos biológicos na agricultura tem sido a luta da minha vida. Tenho muito orgulho de contribuir para a produção de alimentos e, ao mesmo tempo, diminuir o impacto ambiental. A meta era aumentar a produtividade com o menor uso possível de produtos químicos, e conseguimos isso com mais produtos biológicos.”

Os estudos conduzidos por Mariangela resultaram na criação de dezenas de tratamentos biológicos para sementes, elevando a produtividade de culturas agrícolas estratégicas e reduzindo a dependência de fertilizantes químicos. Estima-se que essas soluções já tenham sido aplicadas em mais de 40 milhões de hectares no Brasil, gerando aos produtores uma economia anual de aproximadamente US$ 25 bilhões (R$ 127,5 bilhões) em custos com insumos.

Além do impacto econômico, as tecnologias também trouxeram benefícios ambientais significativos. A substituição de fertilizantes químicos por alternativas biológicas evitou a emissão de mais de 230 milhões de toneladas métricas de CO₂ equivalente por ano.
 

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Mariangela Hungria


Em entrevista ao Confea no ano passado, quando figurou entre os melhores cientistas do mundo no ranking do portal acadêmico Research.com, Mariangela destacou a importância da participação feminina na ciência. Agora, ao receber o Prêmio Mundial da Alimentação, reforçou essa mensagem: “Muitas pessoas questionaram minha capacidade ao longo de minha carreira, mas eu acreditei no que estava fazendo e perseverei. O papel das mulheres na agricultura, da agricultura à ciência, merece mais reconhecimento. Espero que minha conquista inspire outras mulheres a perseguirem suas paixões na ciência.”

Pesquisadora da Embrapa Soja, Mariangela também é comendadora da Ordem Nacional do Mérito Científico e membro titular da Academia Brasileira de Ciências e da Academia Brasileira de Ciência Agronômica. Sua trajetória acadêmica e profissional reflete o compromisso de uma vida dedicada à pesquisa. Graduada em Engenharia Agronômica pela Esalq/USP, possui mestrado em Solos e Nutrição de Plantas pela mesma instituição, doutorado em Ciência do Solo pela UFRRJ e pós-doutorado em três renomadas universidades: Cornell University, University of California-Davis e Universidade de Sevilla. Ao longo de mais de 40 anos na Embrapa, consolidou-se como uma das principais referências da ciência brasileira na área de microbiologia do solo.

Sobre o prêmio
Outros brasileiros já receberam o Prêmio Mundial de Alimentação, contudo é primeira vez que uma mulher brasileira recebe a homenagem. Em 2006, os agrônomos Edson Lobato e Alysson Paulinelli dividiram o prêmio com A. Colin McClung, dos Estados Unidos, pelo trabalho no desenvolvimento da agricultura na região do cerrado. 

O prêmio foi idealizado por Norman E. Borlaug, vencedor do Prêmio Nobel da Paz em 1970 por seu trabalho na agricultura e considerado “pai” da revolução verde. A láurea foi criada em 1986, com patrocínio da General Foods Corporation. A solenidade de entrega do prêmio será em 23 de outubro, em Des Moines (EUA).

Fernanda Pimentel
Equipe de Comunicação do Confea com informações e foto da Academia Brasileira de Ciências