No final de setembro, uma expedição composta por quatro engenheiros florestais e quatro extrativistas de castanhas e moradores da região de Porto Grande (AP) percorreram mais de 70 quilômetros, de barco e a pé, em três dias para verificar in loco o que apontava um estudo do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). O Instituto identificou árvores com alturas muito acima do normal na região do Amapá, entre elas o angelim-vermelho, gigante da Amazônia, que é considerada a segunda maior árvore gigante registrada, entretanto, a primeira verificada com presença in loco. Segundo o Inpe, existe uma árvore ainda maior, com 88 metros, que ainda não foi alcançada por nenhuma expedição. Vale lembrar que a média das árvores mais altas na região gira em torno de 40 a 50 metros, como é o caso da conhecida Sumaúma, considerada a “Rainha da Floresta”.
Doutor em Ciências Florestais, o engenheiro florestal Diego Armando Silva coordena o projeto “Árvores Gigantes”, do Instituto Federal do Amapá (Ifap). Ele explica que o projeto é desdobramento da expedição Jari-Paru, iniciado em 2016 e coordenada pelo professor e engenheiro florestal Eric Gorgens, da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM). Segundo Silva, ao processar informações do sistema Lidar, identificou-se a projeção de árvores de grande porte na Amazônia. “Um conjunto de pesquisadores mapeou seis locais com árvores gigantes, com mais de 80 metros”, explicou o profissional do Sistema Confea/Crea, que também é professor do Ifap.
Em 2019, com os dados em mãos, Diego decidiu, em conjunto com Gorgens, coordenar o projeto “Árvores Gigantes”, que conta com a participação de diversas universidades brasileiras e parceiros que atuam juntos no mapeamento das espécies. Além do monitoramento, os pesquisadores querem entender os principais processos ecológicos que incidem nas características únicas das árvores gigantes.
Sobre a expedição
No dia 24 de setembro, os pesquisadores partiram de Porto Grande, município a 102 quilômetros de Macapá. Após três dias de expedição, com ajuda de satélites e outros equipamentos, os engenheiros florestais chegaram à arvore gigante, que fica na região do Rio Cupixi, nos limites da Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) do Rio Iratapuru.
O coordenador explica que durante a expedição conseguiram realizar todas as etapas referentes à pesquisa. “Fizemos o inventário florestal, coletas de solo, de informações de relevo e de imagens aéreas. É uma floresta primária, nunca antes visitada pelo homem. Uma floresta madura muito bem representada por várias espécies que compõem a vegetação da Amazônia”, detalhou o engenheiro florestal.
Silva também alertou para o interesse madeireiro em relação ao angelim-vermelho devido à sua alta capacidade de produção de madeira. No entanto, sua “função ecológica faz com que se tornem majestosos, quem sabe simbolizando a preservação da Amazônia”, concluiu esperançoso.
Também integraram a expedição os engenheiros florestais Robson Borges, professor da Universidade do Estado do Amapá (Ueap); João Ramos de Matos Filho, representante da Promotoria do Meio Ambiente; e o doutorando Mauricio Alves Sardinha, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).
Confira a visão panorâmica da área em que a árvore gigante está situada:
Imagens de drone que dão a noção da altura do angelim-vermelho:
Financiamento
Essa fase do projeto foi financiado pela Universidade Estadual do Amapá (Ueap) e Fundo Iratapuru, sob coordenação do Ifap. Para dar continuidade ao projeto, eles precisam captar recursos. “Estamos em busca de parcerias, patrocínios para que possamos mapear as outras árvores. Com o corte nas pesquisas científicas estamos nos desdobrando para dar sequência ao mapeamento”.
A próxima expedição, marcada para 5 de novembro, vai mapear uma árvore gigante (83 metros) que se encontra no Projeto de Assentamento Agroextrativista Maracá em Mazagão (AP). “Ainda temos vaga para mais um engenheiro florestal”, anunciou, ao ressaltar que é a modalidade que mais entende sobre árvores, ou seja, é o profissional que visa obter informação da floresta para que seja mantida, preservada e conservada. “É imprescindível que nós, engenheiros florestais, coordenemos expedições dessa grandeza e, em conjunto com uma equipe multidisciplinar, possamos integrar as pesquisas sobre a Amazônia”, ponderou.
O pesquisador espera captar recursos suficientes para dar sequência ao projeto e, ao final, criar na região do Jari um Centro de Pesquisas das Árvores Gigantes que congregue pesquisadores do mundo inteiro em torno dos estudos sobre a espécie.
Para saber mais sobre o projeto, acesse o Instagram e confira o podcast sobre o assunto.
Fernanda Pimentel
Equipe de Comunicação do Confea